sábado, 21 de maio de 2011

O maior amor do mundo

Queria fazer algo rebuscado,
Mas meu amor é simples demais:
É como um navio ancorado,
Eternamente em teu cais.

Se pudesse, dava-te apenas flores
E tornava-te imortal em tua beleza
Infelizmente, não há como livrar-te das dores
Ou poupar-te da tristeza.

Porém, não esqueça, nem por um segundo,
Que a ti, eu sou devoto
E te dedico a minha vida.

O meu amor - turbilhão, maremoto
É terno e tem gosto de acolhida.
É o maior amor do mundo.

domingo, 8 de maio de 2011

Antônia

(em memória àquela que, mesmo depois de morta, deixou sua cor em mim)

Decidi dar-lhe o nome de Antônia para a pobrezinha não morrer pagã. Tão linda, tão frágil. Passou o tempo todo em frente à lampada, disse até para minha mãe que ela queria tomar sol. Talvez não tenha conhecido o sol de verdade, mas suas asas eram amarelas, como não pudera conhecê-lo se suas asas eram amarelas? Anyway, ela conheceu o céu, as flores e a liberdade. Sabia de muitas coisas que muitos não sabem.
Paixão? Não, o que senti foi zelo e admiração: não ia apaixonar-me por alguém que só vive um dia. Seria cruel comigo e eu cansei de ser o chicote e a vítima ao mesmo tempo. Como disse, foi admiração, não conseguia entender o porquê dela distair-se com uma lâmpada se ia morrer em questão de horas. Não havia tempo para aquilo, por que ela não fazia algo que realmente valesse a pena e tivesse algum significado? Patética, foi o que eu pensei.
Eu que o sou, repetindo os erros e vivendo como meus pais, lembrou-me o grito de alerta de Elis Regina. Só vemos o que queremos ver, lembrei-me. Continuei a não ver sentido algum naquilo, porém respeitei a escolha de vida dela e me senti abençoado. Há milhões de quartas, mas ela escolheu o meu. Seus últimos suspiros e minutos de vida foram aqui, no meu quarto.
Quanto desprendimento, pensei. Entre várias árvores, matas, cachoeiras & afins, ela escolheu um aposento branco, com a tinta gasta, cheio de pêlo de gato e desarrumado. Abriu mão do seu mundo, da sua gênese e veio para cá. Talvez fosse a rebelde, a ovelha negra da família. Talvez fosse louca. Ou não. A mãe dela, a Grande Mãe, põe sentido em tudo que cria, inclusive nos seus filhos tresloucados, nós é que não conseguimos ver muito bem isso. É como eu disse: muitas vezes só vemos aquilo que nos convém.
Se foi louca, abraçou sua loucura e não teve medo de viver em sua companhia. Linda, a Antônia. Não é fácil aceitar e conviver com a sua loucura: há sempre a tentação de ceder à mesma, é viver ao lado de uma bomba-relógio, ouvindo aquele tic-tac e sabendo que tudo pode ir aos ares a qualquer momento. É passar os dias ao lado de um caldeirão de ácido sulfúrico, temendo que possa virar e corroer seu corpo inteiro. Uma escolha nada fácil.
Caso tenha sido rebelde, saiu chutando a porta ao som de "born to be wild" e mandando a Grande Mãe e toda a sua criação ir ao inferno. Bem, se Antônia foi essa ovelha negra, não o foi por completo, já que a minha casa é pertinho da Floresta da Tijuca. Bem, pode ser perto para mim e longe para ela, longe o suficiente para ser feliz.
Morreu sem fazer barulho, só bateu um pouco as asas e se escondeu de mim. Estava vendo o último capítulo de um seriado, a mensagem era de esperança, de nunca esquecer quem você realmente é e do amor que deu que lhe foi dado. E, acima de tudo, nunca desistir de sua vida. Essas coisas de Maria Adelaide Amaral, a "Levíssima" de Caio. Acabou. O seriado e a vida de Antônia. E eu não chorei: sorri.
Pois, ao contrário do que muitos pensam, a morte não leva o encanto da vida. Ela nos lembra o quanto nosso tempo é curto e não pode ser desperdiçado com pequenezas. Somos maiores que pensamos. Quem me ensinou isso foi a pequenina da Antônia.
Orgulho-me em dizer que essa tremenda lição de vida não foi dada por alguém igual ou superior a mim, segundo a ordem natural das coisas, mas por um ser considerado inferior. Em tamanho, pode até ser, agora em sabedoria... eu era menor que a borboleta amarela-e-preta que batizei para não morrer pagã.
Vou enterrá-la no Alto da Boa Vista, quando for caminhar lá daqui a poucos minutos. Os bichos vão comê-la, como comem a todos nós, e ela renascerá como um cachorro, um papagaio, uma mulher, pouco importa. Para ser sincero, queria mantê-la comigo, tal qual uma múmia. Mas eu não poderia abrigar em quatro paredes quem me ensinou uma lição dessas.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Afogamento

"Quem faz um poema salva um afogado"
(Mário Quintana)

O mar secou
e dele saí.
O corpo que se jogou
emerge - free.

Das lágrimas
escorre o sal.
Há um mundo inteiro além de você,
meu bem. Meu mal.

Se antes me afoguei em ti,
agora me afogo em alegria.
A noite foi tenebrosa,
mas depois veio o dia.

E toda uma vida, majestosa.
Mergulho em epifania.