segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Um dia eu tentei parar de escrever e tudo ao meu redor girava como se uma roda-gigante tivesse tomado o mundo ao meu redor, que girava. Tonto. Eu fiquei. Zonzo. Eu parei. Vomitei. Voltei. Escrevi.
Se pudesse matar todos os meus fantasmas, seria considerado algo como um fantasmacida, um necromante ao contrário, um exorcista de mim mesmo. E dizem que há algo como um jorro, algo como um gozo, algo como um estupro que sai agora de um lugar tão alheio a mim que penso ser eu mesmo e nada faz mais sentido, e tudo faz sentido, e tudo faz. Olhar um jardim florido, dançar embaixo de uma avelaneira, tomar chá de hibisco – e o sol, o sol, o sol. Iluminava um ponto que queimava em mim e fazia um barulho que parecia uma chaleira, que parecia uma panela, que parecia de pressão, alguma coisa acontece no meu coração. Se eu fosse mais claro, seria límpido, seria córrego, seria rio, seria cachoeira. E eu poderia ouvir um rugir, um ronco, uma pedra, um peixe, os jovens se banhando nas águas do Humaitá, mas eu poderia, eu não posso. O sol que me iluminava também era eclipse, era escurecimento, uma nuvem que tapava a peneira por onde escorriam pequenos fluidos meus, pequenos fios meus, pedaços de minhas unhas, de meus dedos, de meus cabelos, de minha pele, pedaços de um sujeito envultado, de um sujeito em vulto. Um vulto. Passando. Se pudesse matar todos os meus fantasmas, seria considerado algo como um fantasmacida, um necromante ao contrário, um exorcista de mim mesmo.