terça-feira, 27 de outubro de 2015

hoje acordei com cheiro de gozo:
sonhei que minha boca estava no seu pau
e transbordava.
hoje acordei furioso:
era um gosto forte
e amargava.
hoje acordei ansioso:
queria te engolir
e você me afastava.
eu gozava, você gozava,
eu amava, você negava.
uma coisa boa me fez seu pau:
tive voz pra dizer
que meu bem-querer
era o meu mal.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Um dia, vou compor uma música
para ser lida em dó de quem
se escreve.
O tema são seus olhos verdes,
que estão além
do mar,
que me lembra como era te amar.
Nadei rumo ao farol,
porque quem faz um poema salva um afogado.
Não vi a luz, não vi o sol,
não vi Virginia ao meu lado,
me apontando uma saída.
Como Dédalo, tive uma recaída,
porque algo em mim queimou.
O olho verde me viu,
mas a boca não sorriu,
o mar não voltou.

domingo, 4 de outubro de 2015

Queria ser Proust
e ter o tempo redescoberto;
mas de mim só está perto
algo que não é a memória involuntária.
Uma vontade, canalha,
de que tudo dê certo.
O signo mais incerto
que a imagem do escritor.
Amor, que rima com dor,
e que dá a esse bolor
um cheiro de quase-nada.
Uma gota de chá derramada
mistura-se com a lágrima,
que mistura-se com o mar.
Ao longe, Swann no caminho,
um sorriso no rosto que me deixa sozinho,
procurando minha mãe.
Em fuga, corro em busca
do tempo perdido da fugitiva.
Não sou eu, eu sou ela.
Saída.