quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Oásis

Canela e cigarro – minha boca ainda procura por esse gosto. E acha. Só não acha tua boca – lembra como era nosso beijo? Eu lembro. Da tua boca, tão vermelha, tão macia. Da tua língua, me invadindo, me devastando. Dos teus dentes, mordendo meus lábios e os teus lábios que depois sorriam e formavam o meu mantra favorito: eu te amo. E o som daquele mantra me transportava pra um universo paralelo, uma terra de amor. Uma terra onde o amor era lei e você reinava. E, como na canção, eu te pedia: ne me quitte pas ne me quitte pas ne me quitte pas. Porque eu, tão cristal, como você dizia, não agüentaria o maremoto da tua perda. Então minha boca procura teu gosto, meu nariz procura teu cheiro, meu corpo procura teu toque. E eu abro a porta do apartamento, tentando te encontrar.

A escuridão me abraça, não você. Ligo a luz, na vã tentativa que alguns efeitos físicos (químicos também?) te tragam aqui. Não. Os móveis me olham, absortos em sua natureza morta. Quase consigo escutar Nina Simone cantando. Old man sorrow’s come to keep me company. Sento no sofá e choro pela primeira vez. Uma fortaleza ruindo, diriam alguns. Um menino, diria você. E eu, o que digo?

Digo que a vida ao seu lado parecia ser simples – e eu gostava dessa simplicidade. Porque a maior aventura da minha vida foi te conhecer. Quando descobri que podia amar e ser amado foi mais que euforia – epifania. E como tal, breve. Mas algo ficou – um suspiro, talvez. Só sei que ao olhar pra estante e ver a sua foto, me sinto quente. Melhor: me sinto acolhido. Não: ainda me sinto amado. Mesmo com os óculos na ponta do nariz e cara inchada de tanto chorar. Seus olhos, atrás do vidro do porta-retrato, me resgatam de minha própria miséria.

Lembra que eu costumava dizer que você era a minha espécie de Capitu? Não com olhos de ressaca: seus olhos lembravam o mar mais azul e calmo. Aquele mar que eu, sem saber nadar, me jogava e nada acontecia, já que não era qualquer mar. Você é o meu oceano. Quando soube de sua morte, tive a sensação de que todo esse mar tivesse sido aterrado. Encontrei-me num deserto – o deserto mais árido e quente. E ao ver a tua foto, começo a achar que encontrei um oásis.

Levanto-me. Tenho vontade de dançar. Gal começa a cantar “Dindi”. A minha vida inteira, esperei, esperei. Por você, meu bem. Que é a coisa mais linda que existe. Ok, chega de saudade. A verdade é que há tristeza, sim, mas eu sinto que ao mesmo tempo em que uma parte minha morreu contigo, uma parte sua vive em mim.

Chega de dançar.

O sol dá os seus primeiros sinais. Pego sua foto e saio do apartamento. Caminho em direção à praia e percebo o quanto Copacabana é bonita. Tão bonita quanto o mar. Tiro, pouco a pouco, cada peça de roupa e entro no mar. Peço licença a Iemanjá, como você sempre fazia. E, acredite em mim, uma sereia cantou. No mar, no meu coração.

Jogo sua foto nas águas. Com amor, com carinho. Porque é audácia demais tentar prender um oceano. Sei que as águas se encontram e essa foto chegará a você um dia. E quando chegar, entenderá que o nosso amor não foi em vão. Que me salvou do melhor jeito que alguém podia ser salvo. Continuo triste? Obviamente. Porém, tenho certeza de que uma parte de você permanece em mim. Então compreendo que não está de todo morto. Sei que posso me sentir no pior deserto às vezes, mas é só me lembrar de seus olhos – é aí que eu encontro um oásis.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Amores anunciados

Quando o sorriso vem mais fácil: é amor.
Agora é botão; amanhã, flor.
Quando o pôr-do-sol parece mais bonito
e tudo se repete:
se perde,
se acha,
se perde.
Perca-se, eu imploro,
Nos meus braços.
Desate o meu nó
e me amarre ao teu laço.

E nessa Era de Aquário,
nesse quase-verão,
tudo o que verão
será nós dois: felizes.
As mãos dadas,
os beijos molhados,
as promessas trocadas
e o amor por todos os lados.

Vem, meu bem,
que o tempo é curto
e a minha ânsia é enorme.

Vem, meu bem:
pode ser de susto,
pode ser de hora marcada,
pode ser no carnaval,
pode ser na congada,
mas vem.

Vem que eu te quero.
Vem, que eu nunca fui tão sincero.

domingo, 25 de setembro de 2011

Origami

Canta, ó musa,
não a ira de Aquiles,
mas um acalanto
em meu ouvido.

(mais nada:
o mundo é você).

Em teus seios
encontro a Terra Prometida,
o beijo da chegada
e o sabor da acolhida.
Vejo o que sempre busquei
e sonhei e acreditei e hei
de dizer que tu me basta,
mais nada:

O mundo é você.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Easy, baby

Easy, baby.
Easy.
Não se apresse
Que o verdadeiro amor
Não padece,
Mesmo diante à dor.

Eu sei, foi devastado.
Um império derrubado,
Um sonho não-realizado,
Um coração arrasado.

Breathe. Live again.
Remember: no pain, no gain.

Eu sei que dá vontade
De se apaixonar,
De se atirar.
But I tell you one more time:
Easy, baby.
Deixe o amor se mostrar.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Carta ao além-mar

Ver-te ao longe, perdido no horizonte, é como contemplar um navio-fantasma: você sabe que está lá, você pode senti-lo perto, mas nunca será sólido. Uma barreira de nuvens, injusta. Porém, sabe como é: certas pessoas se apaixonam pelo impossível. Não sei se é o meu caso, mas parece. Enfim, não adianta chorar pelo leite derramado ou pelo sentimento não-correspondido. É bola para frente.
Entretanto, a bola nem sempre segue retilínea, me dá inúmeras voltas e rola pra trás. É aí que eu lembro das primeiras vezes: o primeiro sorriso, o primeiro abraço, o primeiro beijo, o primeiro amor. Me resta a contemplação, a saudade daquilo que se foi, mesmo que eu não tivesse nada concreto a perder. Mas perdi. E a perda do abstrato é a pior: como suportar a dor de algo que nunca pôde ser tocado?
Seguir em frente. A velha fórmula, e a mais correta. Mas é que dá saudade, sabia? Pior: às vezes dá esperança. Infundada, eu sei, mas a esperança é um porre com isso de ser a última que morre. Aí bate a decepção após essa esperança e surge uma nova, a de não se decepcionar mais, a de contar com a mudança das pessoas. E eu fico aqui, na espera.
Ela é inútil, eu sei. Mas existirá enquanto houver amor, e se o mesmo é eterno, ela também o é. Fica trancafiada, reprimida, mas fica. Quem sabe se esse fantasma não volta à vida? Sempre há a possibilidade de re-encarnação.
Eu espero.

sábado, 21 de maio de 2011

O maior amor do mundo

Queria fazer algo rebuscado,
Mas meu amor é simples demais:
É como um navio ancorado,
Eternamente em teu cais.

Se pudesse, dava-te apenas flores
E tornava-te imortal em tua beleza
Infelizmente, não há como livrar-te das dores
Ou poupar-te da tristeza.

Porém, não esqueça, nem por um segundo,
Que a ti, eu sou devoto
E te dedico a minha vida.

O meu amor - turbilhão, maremoto
É terno e tem gosto de acolhida.
É o maior amor do mundo.

domingo, 8 de maio de 2011

Antônia

(em memória àquela que, mesmo depois de morta, deixou sua cor em mim)

Decidi dar-lhe o nome de Antônia para a pobrezinha não morrer pagã. Tão linda, tão frágil. Passou o tempo todo em frente à lampada, disse até para minha mãe que ela queria tomar sol. Talvez não tenha conhecido o sol de verdade, mas suas asas eram amarelas, como não pudera conhecê-lo se suas asas eram amarelas? Anyway, ela conheceu o céu, as flores e a liberdade. Sabia de muitas coisas que muitos não sabem.
Paixão? Não, o que senti foi zelo e admiração: não ia apaixonar-me por alguém que só vive um dia. Seria cruel comigo e eu cansei de ser o chicote e a vítima ao mesmo tempo. Como disse, foi admiração, não conseguia entender o porquê dela distair-se com uma lâmpada se ia morrer em questão de horas. Não havia tempo para aquilo, por que ela não fazia algo que realmente valesse a pena e tivesse algum significado? Patética, foi o que eu pensei.
Eu que o sou, repetindo os erros e vivendo como meus pais, lembrou-me o grito de alerta de Elis Regina. Só vemos o que queremos ver, lembrei-me. Continuei a não ver sentido algum naquilo, porém respeitei a escolha de vida dela e me senti abençoado. Há milhões de quartas, mas ela escolheu o meu. Seus últimos suspiros e minutos de vida foram aqui, no meu quarto.
Quanto desprendimento, pensei. Entre várias árvores, matas, cachoeiras & afins, ela escolheu um aposento branco, com a tinta gasta, cheio de pêlo de gato e desarrumado. Abriu mão do seu mundo, da sua gênese e veio para cá. Talvez fosse a rebelde, a ovelha negra da família. Talvez fosse louca. Ou não. A mãe dela, a Grande Mãe, põe sentido em tudo que cria, inclusive nos seus filhos tresloucados, nós é que não conseguimos ver muito bem isso. É como eu disse: muitas vezes só vemos aquilo que nos convém.
Se foi louca, abraçou sua loucura e não teve medo de viver em sua companhia. Linda, a Antônia. Não é fácil aceitar e conviver com a sua loucura: há sempre a tentação de ceder à mesma, é viver ao lado de uma bomba-relógio, ouvindo aquele tic-tac e sabendo que tudo pode ir aos ares a qualquer momento. É passar os dias ao lado de um caldeirão de ácido sulfúrico, temendo que possa virar e corroer seu corpo inteiro. Uma escolha nada fácil.
Caso tenha sido rebelde, saiu chutando a porta ao som de "born to be wild" e mandando a Grande Mãe e toda a sua criação ir ao inferno. Bem, se Antônia foi essa ovelha negra, não o foi por completo, já que a minha casa é pertinho da Floresta da Tijuca. Bem, pode ser perto para mim e longe para ela, longe o suficiente para ser feliz.
Morreu sem fazer barulho, só bateu um pouco as asas e se escondeu de mim. Estava vendo o último capítulo de um seriado, a mensagem era de esperança, de nunca esquecer quem você realmente é e do amor que deu que lhe foi dado. E, acima de tudo, nunca desistir de sua vida. Essas coisas de Maria Adelaide Amaral, a "Levíssima" de Caio. Acabou. O seriado e a vida de Antônia. E eu não chorei: sorri.
Pois, ao contrário do que muitos pensam, a morte não leva o encanto da vida. Ela nos lembra o quanto nosso tempo é curto e não pode ser desperdiçado com pequenezas. Somos maiores que pensamos. Quem me ensinou isso foi a pequenina da Antônia.
Orgulho-me em dizer que essa tremenda lição de vida não foi dada por alguém igual ou superior a mim, segundo a ordem natural das coisas, mas por um ser considerado inferior. Em tamanho, pode até ser, agora em sabedoria... eu era menor que a borboleta amarela-e-preta que batizei para não morrer pagã.
Vou enterrá-la no Alto da Boa Vista, quando for caminhar lá daqui a poucos minutos. Os bichos vão comê-la, como comem a todos nós, e ela renascerá como um cachorro, um papagaio, uma mulher, pouco importa. Para ser sincero, queria mantê-la comigo, tal qual uma múmia. Mas eu não poderia abrigar em quatro paredes quem me ensinou uma lição dessas.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Afogamento

"Quem faz um poema salva um afogado"
(Mário Quintana)

O mar secou
e dele saí.
O corpo que se jogou
emerge - free.

Das lágrimas
escorre o sal.
Há um mundo inteiro além de você,
meu bem. Meu mal.

Se antes me afoguei em ti,
agora me afogo em alegria.
A noite foi tenebrosa,
mas depois veio o dia.

E toda uma vida, majestosa.
Mergulho em epifania.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sobre luas e estrelas

Tal qual uma estrela-guia,
Você passou.
Com todo seu brilho, me arrepia
Com todo seu fogo, me arrebatou.
Agarrei nos braços teus
E disparei contigo pelos céus.

Me entreguei?
Claro, de forma sincera.
Fome de quimera
Tinha a fera
Que, em meu peito, abriguei.

Enfim, chegamos
Ao solo lunar
(aquele que nunca pisei).
Minha mente, a delirar
Achou que nos amamos.
Hoje, eu sei
Que "nós" era incerto.
Tenho apenas a certeza que te amei
(e a que nunca, nunca te decifrei).

Fascinado pela beleza tua,
Deixei-me levar à lua,
Com seu encanto fascinante
E a sua órbita inconstante
(como disse Julieta).
A estrela, antes d'alva,
Deixou meu peito em mágoa.
Queimou-me como um cometa.

Apesar de tudo, valeu a pena
(mesmo que a duras penas)
A fantasia vivida.
Voltei à Terra
- Já era hora da partida.
Às vezes, fico te procurando
Em vão. Sei que só resta ficar lembrando
O que vivi além da atmosfera.
Se foi bom? Depende.
Às vezes, ficava a flutuar.

Às vezes, ficava sem ar.

domingo, 17 de abril de 2011

No lado esquerdo

Parece ridiculo, mas ainda te guardo. Ainda te tenho, embora o que tenho seja apenas um vestígio seu. O cordão que usou, pendurado no lado esquerdo da minha cama. Costumava ter seu perfume, sabia? O tempo, não o vento, levou o cheiro; todavia permanece lá, com esse cheiro neutro, talvez sem cheiro mesmo. Neutralidade nunca foi uma das suas características. Oito ou oitenta. Assim ou assado.
Me lembro quando você chegou. Me lembro quando eu comecei a te amar. Me lembro de muitas coisas: da primeira briga, das coisas que você disse, dos meu erros, enfim. Muita coisa. Porém, não lembro de quando você partiu. Acordei e você não estava mais lá. Só o seu cordão.
Gastaria muito tempo em tentar recordar o porquê do afastamento. Prefiro usá-lo para buscar recordações dos nossos dias de sol e tenho a impressão de que foram mais numerosos que os nublados & chuvosos, ou, você sabe, eu caio no clichê (como sempre) mais realista: as pessoas só veem o que querem. Não me incomodo, pelo menos eu vejo felicidade.
Bobeira? Talvez. Bem, antes lembrar as nossas risadas a reviver o que senti quando você disse que eu não fui tão importante pra você, quando você o foi para mim. Não importa, tenho certeza que fui, mesmo que não tenhas.
Aprendi com você o significado de mudar da água para o vinho, embora eu tenha a impressão que você mudou da água para o conhaque. Não mais inebriante: rasgante. Posso estar errado. Ou não. Anyway, não te conheço mais. Escrevo para o seu passado, o qual conheci muito bem e que fui perdidamente apaixonado.
Sim, porque eu ainda guardo o som das suas risadas e a beleza de te ver fumando na Atlântica na minha mente sonolenta. E o cordão, é claro. Não espero que você entenda as palavras que digo, só entenda isso: o cordão repousa no lado esquerdo da minha cama, pois as coisas que amamos são guardadas lá. Entenda que aquele que caminha sobre algodão, afunda. O chão, antes leve, cede ao seu peso. Outrora um solo macio, rompe-se, traidor.
Ah, entenda também que só lhe desejo felicidade.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Janela aberta

Pare.
Por favor.
Decida-se,
Meu amor.
Meu amor.
Aquele que te dei
E você não pegou.
Não me enganou
- Eu que me enganei.
Pare.
Por favor.
Decida-se:
A cruz
Ou a espada.
O teu sorriso,
Minha luz.
Teu gosto,
Ainda presente
Na minha boca marcada
Pelo teu beijo,
Que era chama.
Pare.
Por favor.
Decida-se.
Ainda me ama?
Se não, pare de abrir a janela
E invadir a minha cama.
Tiveste o direito de entrar em minha vida.
Agora tens o direito de sair dela.

Eat me. Drink me.

Perfeito? Ilusão.
Realidade? Intragável.
Gastava seu tempo,
Em vão,
Em engolir algo amargo.

Desce rasgando,
Dor suportável.
Horas passando
E eu sendo avisado.

Vê flores na lama,
Messiânica promessa
- Maybe Jesus, maybe Buda.
Like a child,
cai nessa
Que se pode mudar a alma
De um filho-da-puta.

Vê flor carnívora à frente:
Selvagem, arreganhando os dentes.
Um passo, em falso, dado.
Meio caminho para ser devorado.
So much that my eyes, now blind, could see.
It doesn't matter.
Eat me. Drink me.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

À deriva

Queria estar numa praia, sentado na areia e sentindo a brisa que vem do mar. Pena que não estou. O único vento que sinto em mim é aquele do ventilador, mas dizem que querer é poder, não é? Sendo assim, estou lá, sentado. A alma na areia e o corpo trancado no quarto, pseudo-viagem astral. Todo esforço é válido para estar perto do mar, que fala conosco em seu silêncio.
O silêncio, às vezes, é mais reconfortante que a resposta à dúvida. Ele pede um esforço diferente: o do abandono, aquele que exige a máxima entrega para que nada seja seu. Engraçado isso, esse prazer de fazer nada. Eu, acostumado a oscilação entre a correnteza e a calmaria, não oscilo mais. E não é que eu esteja estável - ou estou?
É. As perguntas mais difíceis a serem respondidas são as suas. Mas não, não diria que estou estável, diria que estou à deriva, porém sem dar a essa expressão um tom de quem está perdido, só estou sendo levado pelo curso das coisas. E, caso o barco vire, posso até me afogar, mas volto à superfície. Como um velho marujo acostumado a tormentas e que não precisa mais de mapas do tesouro.
Cheguei onde queria. Conheço bem a areia sob os meus pés. É lindo admirar a imensidão do oceano à frente dos seus olhos e sentir a brisa na sua pele, contudo há a hora em que não basta admirar: chegou o tempo onde deve-se mergulhar na imensidão a sua frente. De cara ou aos pouquinhos, como quiser. As maiores e mais importantes decisões são suas, mas tente não pensar nisso - o peso da responsabilidade é prejudicial ao exercício do abandono.
Levando isso em conta, vejo que não há nada melhor que mergulhar e ficar à deriva quando pode-se. E quando pode-se, deve-se. Vai além da sensação: é um estado de espírito.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Se eu pudesse dar um conselho em relação ao futuro, eu diria:"usem filtro solar". O uso em longo prazo do filtro solar, foi cientificamente provado. Os demais conselhos que dou baseiam-se unicamente em minha própria experiência. Eu lhes darei esse conselho:

Desfrute do poder e da beleza da sua juventude. Ou, esqueça...

Você só vai compreender o poder e a beleza quando já tiverem desaparecido. Mas acredite em mim. Dentro de vinte anos você olhará suas fotos e compreenderá de um jeito que você não pode compreender agora quantas possibilidades se abriram para você e o quão fabuloso você era... Você não é tão gordo(a) quanto você imagina.

Não se preocupe com o futuro. Ou se preocupe, mas saiba que se preocupar é tão eficaz quanto tentar resolver uma equação de álgebra mascando chiclete. É quase certo que os problemas que realmente têm importância em sua vida, são aqueles que nunca passaram pela sua mente, tipo aqueles que tomam conta da sua mente às 4 horas da tarde de uma terça-feira ociosa.

Todos os dias faça alguma coisa que te assuste. Cante. Não trate os sentimentos alheios de forma irresponsável. Não tolere aqueles que agem de forma irresponsável em relação aos seus sentimentos.

Relaxe. Não perca tempo com inveja. Às vezes você ganha, às vezes você perde. A corrida é longa, e no final, tem que contar só com você.

Lembre-se dos elogios que você recebe. Esqueça dos insultos. (Se você conseguir fazer isso, me diga como...) Guarde suas cartas de amor. Jogue fora seus velhos extratos bancários. Estique-se.

Não tenha sentimento de culpa por não saber o que você quer fazer da sua vida. As pessoas mais interessantes que eu conheço não tinham, aos 22 anos, nenhuma idéia do que fariam na vida. Algumas das pessoas interessantes de 40 anos que eu conheço ainda não sabem.

Tome bastante cálcio. Seja gentil com seus joelhos. Você sentirá falta deles quando não funcionarem mais.

Talvez você se case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez você se divorcie aos 40.
Talvez você dance uma valsinha quando fizer 75 anos de casamento.
O que você fizer, não se orgulhe, nem se critique demais. Todas as suas escolhas tem 50% de chance de dar certo. Como as escolhas de todos os demais.

Curta seu corpo da maneira que puder.
Use-o de todas as formas que puder.
Não tenha medo dele ou do que as outras pessoas pensam dele.
Ele é o maior instrumento que você possuirá.

Dance. Mesmo que o único lugar que você tenha para dançar seja sua sala de estar.

Leia todas as indicações, mesmo que você não as siga. Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se sentir feio.

Saiba entender seus pais. Você não sabe a falta que você vai sentir deles quando eles forem embora pra valer. Seja agradável com seus irmãos. Eles são seu melhor vínculo com o passado e aqueles que, no futuro, provavelmente nunca deixarão você na mão. Entenda que os amigos vão e vem, mas que há um punhado deles, preciosos, que você tem que guardar com muito carinho.

Trabalhe duro para transpor os obstáculos geográficos e os obstáculos da vida, porque quanto mais você envelhece, tanto mais precisa das pessoas que te conheceram quando você era jovem.

More em New York City uma vez.
Mas mude-se antes que ela te transforme em uma pessoa dura.

More no Norte da Califórnia uma vez.
Mas mude-se antes de tornar-se uma pessoa muito mole.

Viaje.

Aceite algumas verdades eternas: Os preços vão subir, os políticos são mulherengos e você também vai envelhecer. E quando você envelhecer, você fantasiará que quando você era jovem: os preços eram razoáveis, os políticos eram nobres e as crianças respeitavam os mais velhos. Respeite as pessoas mais velhas.

Não espere apoio de ninguém. Talvez você tenha um fundo de garantia. Talvez você tenha um cônjuge rico. Mas você nunca sabe quando um ou outro pode desaparecer.

Não mexa muito em seu cabelo. Senão, quando tiver quarenta anos, vai ficar com a aparência de oitenta e cinco.

Tenha cuidado com as pessoas que lhe dão conselhos. Mas seja paciente com elas. Conselho é uma forma de nostalgia. Dar conselho é uma forma de resgatar o passado da lata do lixo, limpá-lo, esconder as partes feias e reciclá-lo por um preço muito maior do que realmente vale.

Mas acredite em mim, quando eu falo do filtro solar.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ainda pior que a convicção do não,
e a incerteza do talvez,
é a desilusão de um quase.

É o quase que me incomoda,
que me entristece, que me mata trazendo
tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase passou ainda estuda,
quem quase morreu ainda está vivo,
quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,
nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca
sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna;
ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor,
está estampada na distância e frieza dos sorrisos,
na frouxidão dos abraços,
na indiferença dos “Bom Dia” quase que sussurrados.

Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são.

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo,
o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance;
pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que sonhando,
fazendo que planejando, vivendo que esperando
porque embora quem quase morre está vivo,
quem quase vive já morreu.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Sonho de uma noite de verão

E se não tiver mais jeito,
Durmo no teu peito
- Nada custa sonhar.
Que as horas passem lentas,
Que entre em extinção as tardes cinzentas
- Que esteja longe o meu despertar.

Mas não farei cena
Quando, enfim, o sol raiar,
Rompendo a noite serena.
Prometo que irei me conter
E não tentar prender
O que é livre para voar.

Sendo assim,
Resta dormir
E esperar
Que sonhos não tenham fim
- Talvez um raio possa cair
Duas vezes no mesmo lugar.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Revelações solares

Na areia, de pés descalços
Fico sentado.
Calado.
Sem motivos falsos
Para observar
O sol se pôr
Ao teu lado,
Meu amor.

Descobrimos
Que de tudo que vimos
Só a beleza
É o importante.
Queríamos
Que o mundo inteiro
Vivesse aquele instante.

A chuva começa, então.
Epifania
É o amor.
A única alegria,
A única opção.

A onda que foi

Às vezes me pego pensando,
Calado, remoendo.
Rindo, relembrando.
Revivendo.
Amando.

Como se fosse novamente atingido
Por aquele turbilhão.
Como se não tivesse sofrido
Por cada detalhe, cada ação.

Mas amor é bicho solto,
Pode ser enterrado,
Mas nunca será morto
O que foi amado.

Às vezes, saudade
Da voragem
Que me engoliu.
Mas, pra falar a verdade,
Eu prefiro ficar à margem
A reviver o que partiu.
Um amor louco, insano.

(Para sempre você, libriano)

Highway

Sabe, Shakespeare disse uma vez que a vida é cheia de som e fúria, não significando nada quando chega ao fim. Eu não sei se entendi corretamente, afinal estamos falando de Shakespeare, mas eu sempre vi nessa frase um sentido de "hey, não leve tudo a ferro e a fogo, porque não se leva quase nada no final". O fato é que a nossa vida é rápida demais para prender-se a pequenas futilidades, não aquelas que são compradas num passeio ao shopping, coitadas, essas são aliviadoras. Estou falando das chamadas picuinhas, aquelas pragas de jardim.
Pense na sua vida como um grande jardim e você o jardineiro. Ocorreram geadas, secas, chuvas, enfim, uma série de problemas comuns. Nenhum deles é pior que uma praga, pois a mesma corrói até destruir e os outros, mesmo quando destroem e machucam, renovam, pois tudo crescerá de novo. Agora, eu pergunto: por que deixar essas pragas tomarem conta? Porque elas parecem fortes demais. Se tudo e todos mostrassem sua essência, não viveríamos no mundo real.
É difícil? Pra caralho. O que vem com facilidade tem uma grande probabilidade de ser efêmero. Então, pare. Pense um pouco. Qual é o maior objetivo do ser humano? Qual é a maior busca da humanidade? Qual é o tempero da vida?
Exatamente. É o amor. Uma vida sem amor não é vida: é existência. Não levamos absolutamente nada quando a tampa do caixão é fechada, somente o amor que demos e o que nos foi dado. So, think about it. It's a long highway, but you choose if you wanna go to hell or not.