quarta-feira, 19 de maio de 2010

Há uma gota de sangue em cada rosa

Há sempre uma dor
dessas, uma bem sofrida
em cada vivido amor.
E sangue em cada rosa colhida.

Há sempre uma tristeza
despercebida no ar
quando a rosa, em sua beleza,
se deixa murchar.

Pois a tua mão bate
e o meu rosto apanha.
Há pétalas espalhadas por toda parte,
há sempre vítimas da nossa manha.

E minha mão levanta
para acariciar quem bateu.
Dentro de cada santo, há uma puta.
O meu espinho sempre fere alguém
(que não sou eu).

Em cada sol, há uma lua.
Sou livre, mas sou sempre tua.
Em cada visível beleza
esconde-se uma decadência
(posso ser amado, mas sempre há a carência).
Assim como atrás da sorte
há o azar.
E atrás da morte
o desabrochar.

Em cada nuvem, em cada céu,
em cada promessa de ser sempre seu.
Em cada tarde no florido jardim
(certamente sem mim).

Em cada rio, em cada mangue,
em cada rosa. Uma gota de sangue.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

"O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível, uma pureza que está sempre se pondo, indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa ideia de paraíso que nos persegue, bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não dói."
(Cazuza - O tempo não para)
"de cada amor tu herdarás só o cinismo
quando notares, estás à beira de um abismo
abismos que cavaste com os teus pés."

sexta-feira, 7 de maio de 2010

"olha pra mim e verás quanta coisa ocultei."

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Teatro dos Vampiros

Sempre precisei de um pouco de atenção. Acho que não sei quem sou. Só sei do que não gosto.
Me encerrar num teatro de vampiros não foi minha melhor opção. Muito menos deu certo. Nunca fui um gótico, apesar de ter afirmado isso no começo da adolescência. Não sirvo para ser meu vampiro, para sugar a minha vida. Apesar de me sabotar bastante. Como Anne descreveu, eu sou a moça que sobe ao palco e entrega a sua vida. Eu sou o vampiro estudioso, o que sente pena de si mesmo e o sarcástico. Mas não meu, dos outros. E sou minha própria vítima. Como Saint Germain, Eu Sou. Esse teatro de vampiros, repelto de vítimas. Sou a boca que escarra e que beija. E nesses dias estranhos, fica a poeira se escondendo pelos cantos. Como eu me escondi de mim mesmo. Esse é o nosso mundo. O que é demais nunca é o bastante.
E a primeira vez sempre é a última chance. Por isso eu registro as minhas e corro atrás. Como aprendi a correr atrás de um certo signo da balança, o primeiro. Como aprendi a não correr atrás de você, amor. O primeiro na sua singularidade, não o primeiro em ordem cronológica. Mas o primeiro em meu coração. Ninguém vê onde chegamos, e eu já estava apaixonado, sem ver, só sentindo. Os assassinos estão livres, nós não estamos. Para ficar juntos, acho que nunca estaremos. Mas eu te amo assim mesmo.
E eu penso: vamos sair! Mas não temos mais dinheiro. Os meus amigos todos estão procurando emprego. E eu estou procurando os meus sonhos, a minha vida. Voltamos a viver como há dez anos atrás, e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas. Vamos lá, tudo bem! Eu só quero me divertir, esquecer dessa noite, ter um lugar legal pra ir. Me entorpecer tanto e me libertar. Talvez em Ipanema, talvez na Lapa. Com você ou sem você; não deixarei de viver. Nem de te amar. Por mais que eu te ame, aprendi que devo ser o primeiro lugar. Já entregamos o alvo e a artilharia. Comparamos nossas vidas e esperamos que um dia nossas vidas possam se encontrar. Quando me vi, tendo de viver comigo apenas e com o mundo, você me veio. Como um sonho bom. E me assustei: não sou perfeito. Amo logo você. Você. Sempre amei, mas sentir é uma coisa e saber que sente é outra. Eu não esqueço a riqueza que nós temos. Ninguém consegue perceber. E de pensar nisso tudo, eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir.
Vamos sair, mas estamos sem dinheiro. Os meus amigos todos estão procurando emprego e eu estou. Procurando. Voltamos a viver como há dez anos atrás, e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas. Mas continuamos os mesmos. No fundo.
Vamos lá, tudo bem. Eu só quero me divertir, esquecer dessa noite, ter um lugar legal pra ir. Já entregamos o alvo e a artilharia. Comparamos nossas vidas e mesmo assim não tenho pena de ninguém. Porque apesar das merdas, há flores. Apesar do lixo, há purpurina. E atrás da tristeza se esconde um carnaval.

domingo, 2 de maio de 2010

Votos de submissão

Caso você queira posso passar seu terno,
aquele que você não usa por estar amarrotado.
Costuro as suas meias para o longo inverno...
Use capa de chuva, não quero ter você molhado.
Se de noite fizer aquele tão esperado frio
poderei cobrir-lhe com o meu corpo inteiro.
E verás como a minha pele de algodão macio,
agora quente, será fresca quando for janeiro.

Nos meses de outono eu varro sua varanda,
para deitarmos debaixo de todos os planetas.
O meu cheiro te acolherá com toques de lavanda
- Em mim há outras mulheres e algumas ninfetas
- Depois plantarei para ti margaridas da primavera
e aí no meu corpo somente você e leves vestidos,
para serem tirados pelo seu total desejo de quimera.
- Os meus desejos, irei ver nos seus olhos refletidos.

- Mas quando for a hora de me calar e ir embora
sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim.
Não me envergonharia de pedir ao seu amor esmola,
mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim.

(Nem vou deixar – mesmo querendo – nenhuma fotografia.
Só o frio, os planetas, as ninfetas e toda minha poesia.)

O quarto branco

Abrir os olhos.
Luz de cegar.
Segurar na mão
do anjo
e voar
com o dragão.
Indecisão
é a paixão
que fala,
que grita
nesse nada.
Que desabrocha
e despetala
como flor
nesse quarto branco.
Dos olhos, a dor
de enxergar.
Da garganta, de se declarar.
Do peito, o amor.
Nada brando.

Dying Is an Art. Like Everything Else.

Dying
Is an art like everything else.
I do it exceptionally well.

I do it so it feels like hell.
I do it so it feels real.
I guess you could say I've a call.