quinta-feira, 30 de julho de 2015

8

Hoje saí para comprar flores.
Hoje eu saí de um lugar
- Mas o outro permanecia em mim.
Atravessei a rua, ignorei as dores
Que se conjugam sempre no infinitivo: atormentar.
Hoje eu saí, assim.
O dinheiro no bolso e nada nas mãos,
Livres para comprar flores.

Comprei flores, mas nada mudou.
O vazio ficou insuportavelmente cheio,
O escuro ficou insuportavelmente belo.
Eram rosas vermelhas, mas ninguém olhou.
As pétalas murcharam para algo feio,
Algo disforme; deixaram de sê-lo.
Do alto da escada e da minha embriaguez,
A minha coragem e a covardia gritante.

Nunca mais comprei flores, nunca mais os olhos fechei.
Tudo passa tão etéreo que me torno ridiculamente sólido
Na muralha de névoa em que me envolvi.
Mas sei que na vida tudo são flores:
Um instante de beleza, um instante de aroma.
Um momento de cor, um momento de alegria.
Um constante de podridão, meu constante de espinhos.
("Rosas verás, só de cinzas franzidas,

mortas, intactas pelo teu jardim.")