sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

À deriva

Queria estar numa praia, sentado na areia e sentindo a brisa que vem do mar. Pena que não estou. O único vento que sinto em mim é aquele do ventilador, mas dizem que querer é poder, não é? Sendo assim, estou lá, sentado. A alma na areia e o corpo trancado no quarto, pseudo-viagem astral. Todo esforço é válido para estar perto do mar, que fala conosco em seu silêncio.
O silêncio, às vezes, é mais reconfortante que a resposta à dúvida. Ele pede um esforço diferente: o do abandono, aquele que exige a máxima entrega para que nada seja seu. Engraçado isso, esse prazer de fazer nada. Eu, acostumado a oscilação entre a correnteza e a calmaria, não oscilo mais. E não é que eu esteja estável - ou estou?
É. As perguntas mais difíceis a serem respondidas são as suas. Mas não, não diria que estou estável, diria que estou à deriva, porém sem dar a essa expressão um tom de quem está perdido, só estou sendo levado pelo curso das coisas. E, caso o barco vire, posso até me afogar, mas volto à superfície. Como um velho marujo acostumado a tormentas e que não precisa mais de mapas do tesouro.
Cheguei onde queria. Conheço bem a areia sob os meus pés. É lindo admirar a imensidão do oceano à frente dos seus olhos e sentir a brisa na sua pele, contudo há a hora em que não basta admirar: chegou o tempo onde deve-se mergulhar na imensidão a sua frente. De cara ou aos pouquinhos, como quiser. As maiores e mais importantes decisões são suas, mas tente não pensar nisso - o peso da responsabilidade é prejudicial ao exercício do abandono.
Levando isso em conta, vejo que não há nada melhor que mergulhar e ficar à deriva quando pode-se. E quando pode-se, deve-se. Vai além da sensação: é um estado de espírito.

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