Hoje o dia pareceu um ano. As coisas aconteceram rápido demais, milhões de fatos explodiram, um atrás do outro. Hoje o orgulho foi inevitável: eu sobrevivi a essa sucessão de bombas de Hiroshima. Sobrevivi a mim mesmo e sobrevivi ao amor. Ao amor protetor que te prende no casulo, que coloca comida em sua boca, que tem medo do seu voo. Por que temer o voo? Por medo. Simples assim. Medo temperado com uma pitada de egoísmo - mas é amor verdadeiro. Porém, de nada adianta: eu sou livre para voar e a liberdade é meu direito incontestável.
E sair da resignação não ia demorar muito. Há tempo demais eu me encontrava no emaranhado, perdido no labirinto do Minotauro. Desesperado, sem nenhum barbante para voltar e contemplar o céu azul, a praia. Tomei um banho fétido de conformismo e sentei. Esperei. Pareceram minutos, mas foram séculos. E eu vi.
De primeiro, não tive medo. Passivo estava, passivo fiquei. Os olhos vermelhos, a respiração ofegante. De segundo, senti medo: eu não queria aquilo, eu rejeitava. Uma onda de desespero me banhou, mas a voz não saía - o grito era interno. Rasgava-me por dentro, maldita hemorragia interna. Um clique, enfim, me tirou dessa. Olhei no fundo dos olhos avermelhados e vi que não era o Minotauro que estava à minha frente. Era A Pior Parte de Mim.
Quem sente medo de si mesmo não vive: existe. E a fome era de vida, a fome sempre será de vida, vampiro que sou. E o meu desejo maior é meu direito maior - ninguém pode tirá-lo de mim. Ri, então, na cara do idiota que estava à frente. Dei-lhe as costas e fui embora.
Não vi céu azul ou praia. Vi o concreto do centro da cidade, a Avenida Presidente Vargas me revelando que flores podem nascer do asfalto, que Drummond estava certo. E a minha flor nascera, plantada pelo sorriso da criança no ônibus vizinho e pela visão da mulher vestida de palhaço andando na Central.
Eu sei que irá demorar até eu regar a minha flor. Eu sei. Mas ela não morrerá pela demora. Ao menos murchará. Porque nunca será esquecida. Porque é minha. Porque se alimentará do meu amor. E ela sabe disso. Eu sei disso.
Ela viverá.
E eu também.
(escrito no dia 25/11/2010)
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
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