quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Gira sol

Antes da primavera dar o último suspiro, o verão entra pelas janelas numa invasão quase obscena. Percebe-se um contraste: as pessoas que circulam pelas ruas morrem de calor, enquanto as plantas aproveitam-no cada vez mais, nascendo e renascendo tão rápido que mal percebia-se que houvera uma morte no meio. Meio sem nexo, meio sincopado, eu sei. Mas o tempo me deixa assim, um tanto quanto viajante, um certo quê de Alice, mas não sigo um coelho apressado: sigo um sol majestoso, que se arrasta sobre a minha pele e meus dias.
E nesta última semana de uma vida, os dias parecem mais mágicos, a pulsação do sol atinge um clímax para esse fim, que está quase atravessando a porta e avisando que chegou. A Floresta da Tijuca, a bênção que rodeia o meu bairro, mostra-se mais imponente e mais colorida, já que a memória deve guardar tudo nesses dias. E nesse mútuo entendimento, os fatos tornam-se mais marcantes e a minha mente mais receptiva.
É clichê, mas uma das maiores ilusões é não pensar que as coisas são finitas. Doce ilusão. Na arrogante certeza que podemos desfrutar de tudo na hora certa, deixamos o "tarde demais" invadir-nos, vindo à tona uma das piores perdas: a perda do que poderia ser seu. O ser humano mais sábio é aquele que reconhece a ignorância frente à efemeridade do tempo. Coloca-se, então, a memória para trabalhar e procura-se viver a vida sem desperdiçar uma gota de amor, derramando-o por completo.
Porque não tem outra solução, baby: se não há amor, há apenas uma existência. O amor tem dessas filhas-da-putice de trazer todo o tempero da vida junto dele. Ele nos pega e nos faz rodopiar em chamas, como um sol ou como outra coisa bonita, talvez um girassol ou o que bem entender. Não importa. No final, tudo se resume a você, bola de fogo rodopiante, ou parado, apenas assistindo os outros.
Talvez por encontrar-me numa epifania digna de Caio F. e Clarice eu escrevo isso. Eu sei que o fim de um ciclo implica no começo de outro, já que ciclo é ciclo, uma das poucas coisas infinitas. E a minha mão ambígua levanta-se, num sinal que pode ser um "até logo" ou um "adeus". Tristeza? Inevitável. Saudade? Inevitável. Felicidade? Irrevogável. Porque dessa fruta eu só tirei amor. Dou graças a Zambi por, apesar dos apesares, estar terminando, já que a força que tenho hoje vem de uma longa estrada de amor.
Se me perguntassem agora como me sinto, responderia que me sinto como um sol.

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