quinta-feira, 18 de junho de 2015

Pílula

Descrever a insônia
Com detalhes de cirurgião:
Primeiro rasga-se a carne
(Cuidado na incisão)
Depois abre-se o peito:
Há de encontrar alguma metástase.
Prognóstico: um tumor.
Procedimento: levar à análise.
Tratamento: altas doses de quimioterapia.
(Se perde-se o dedo e ficam os anéis,
Perde-se o cabelo e fica a mais-valia
Desse sistema de exploração
De um eu tão eu que chega a ser outro)
Poesia não é a solução:
É só uma saída.
(Pode não levar a lugar algum,
Pode não ser um Messias,
Pode ser tão ridícula)
Pode me envolver em um
Mar
Que rima com amar
Que rima com metástase
Que rima com beleza
Que rima com loucura
Que rima com vozes
Que rima com câncer
Que rima com metástase
Que pede um tratamento
Aplicado, seguro.
Objetivo: aliviar o sofrimento.
(Pode não levar a lugar algum,
Pode não ser Messias,
Pode ser tão ridícula)
Ninguém alivia ninguém da morte
"Por favor, seja forte"
É o que um cirurgião diria.
Não sou cirurgião, mas




Também não sou poeta.
E também não sou profundo:
Sou difuso.
De fuso, cada horário sou um pouco
Até não restar nada, que aí não tem problema.
"Não restou mais nada, resolvemos seu problema"
É o que um cirurgião diria.


Para a metástase, quimioterapia.
Para a dor, uma canção.
Para ter voz, a poesia.
Para mim, a opção
Dessa pílula, mais nada.
A conclusão?
É placebo, eu sei.
Assim como eu.

Tentei.


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