terça-feira, 5 de junho de 2018

Carta da travessia


Escrevo uma carta a teus olhos
E penso como são tão bonitos,
Como me perfura esse tempo de sonho,
Esse tempo de angústia, esse tempo de gritos.
Quero te falar do desarranjo,
Mas não sei até onde sou capaz.
Entre nós dois, um som de flauta,
Uma orquídea, uma promessa de paz.
A infância interdita,
A palavra calada,
A vontade impedida,
Mas, entre nós,
O grito rasgado de uma voz
Que me coloca medo até que durma.
As águas rasas sempre me incomodaram,
Como me incomodam os seus olhos sobre mim
Os olhos que nunca me amaram,
O ruído que nunca tem fim.
Ouça bem a carta do desarranjo,
O futuro mecânico,
O som agudo de tamborim.
Eu te conto todo o passado,
Solto um grito rasgado
E beijo seus olhos,
Que caem sobre mim

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